quarta-feira, 5 de maio de 2010

Texto-sentido - Capítulo I - Sobre Esperança

A pedagogia e os conceitos de esperança pensados pro Freire chamaram minha atenção sobretudo. Fizeram-me lembrar do último texto que escrevi para a revista sobre esperança.

"Esperança é a última que morre", dizem, em geral, quando se está angustiado ou cansado, beirando a incredulidade. Mas de onde vem o ditado? Vem de Pandora. A bela deusa do Olimpo que recebe de um deus apaixonado um presente, uma caixa, que apenas deve ser aberta quando do momento certo. Pandora, contudo, desobedece o pedido e, do recipiente, saltam todos os sentimentos do mundo, recaem sobre a Terra, descendo a grande montanha divina. O amor, o ódio, a compaixão, a inveja, a solidariedade, a peste, a guerra: todas os bens e males da humanidade. Tomada de desespero, a deusa fecha a caixa, restando nela apenas um sentimento: a esperança. 

A meu ver, mais do que de esperança propriamente, o mito trata de luta, porque sugere que só devemos procurar pelo último sentimento (escondido, encerrado na caixa) após termos experienciado todos os outros. Antes da esperança passiva é preciso a luta, o contato com o amor, a dor, a amizade e a dúvida. 

É isso que nos faz humanos e, creio, a isto também se referiu Freire ao exortar que não devemos nos acomodar, muito menos vulgarizar a esperança, transformando-a em uma espera vã.

Mayara de Araújo

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